A Hierofania

O Rito é dirigido por um Grande Hierofante, função que tem um carácter especificamente egípcio, que não se encontra em nenhum outro grão-mestrado maçónico. Função retomada por Jean-Etienne Marconis de Nègre. A sua continuidade é assegurada no Antigo e Primitivo Rito Oriental de Misraim e Mêmphis na pessoa do Soberano Grande Hierofante Geral, Supremo Conservador da Ordem e do Rito, que é nomeado ad vitam e que, antes de passar à Grande Pirâmide Eterna, se ocupa da outorga das funções com vontade testamentária em favor de um Grande Conservador.

Assim o Soberano Grande Hierofante Geral assegura a continuidade, mesmo se o Rito, nos seus corpos inferiores, e, por vezes, nos seus corpos superiores, está em dormência. Só quando o Rito está em dormência em todas as suas Câmaras, e que o Supremo Grande Conservador morre sem testamento, é que um Grande Conservador pode diligenciar para reactivar o Rito.

A Grande Hierofania assegura o poder de transmissão no seio do Rito. Todo o Rito está organizado como uma Grande Pirâmide, no topo visível da qual se encontra o Soberano Grande Hierofante Geral, enquanto no topo invisível se encontra o Sublime Arquitecto dos Mundos, cuja Presença torna os Trabalhos sagrados. Esta Presença, que deve ser sentida por todos, é invocada para que ela intervenha na direcção dos próprios Trabalhos. Isto em harmonia com o princípio de que a Luz vem do Alto.

Em harmonia com o princípio segundo o qual a reascensão se deve fazer rumo ao Alto por estádios sucessivos de consciência, o Rito desenvolve-se em vários níveis, organizados como pequenas pirâmides, uma dentro da outra, cujo topo é investido das funções correspondentes pelo topo visível de todo o organismo, único detentor da “Virtus”.

O nível mais baixo, chamado Zona de Primeiro Trabalho, compreende as Câmaras de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Aí, após ter tomado consciência da Queda do Homem e da falta de virilidade espiritual que daí resulta, carência que o arrasta até aos níveis mais baixos do Devir, e após ter considerado a necessidade de transportar o Homem para o centro da cruz horizontal, na Zona de Primeiro Trabalho, o neófito empreende uma operação tendente a reconstituir o Homem em todas as suas componentes pela transmutação da personalidade profana e caótica em personalidade ordenada e harmoniosa.

Trata-se da construção do Templo interior, que preparará o despertar do estado de consciência humano com a revalorização dos valores da “Fides” (fidelidade – lealdade – honra – coragem – domínio de si – ponderação, etc.).

Este Trabalho é dito simbólico, no sentido em que as três primeiras Câmaras são dedicadas ao estudo da Tradição, à formação da mentalidade tradicional, à meditação sobre os símbolos, aos pequenos trabalhos efectuados no objectivo de rectificar tudo aquilo que, em nós, reconhecemos como distorções. A iniciação nestas Câmaras é somente um reflexo, uma representação da verdadeira iniciação, que cada um deve operar sobre si próprio nas Câmaras sucessivas.

Os Trabalhos das três primeiras Câmaras continuam nas Câmaras superiores ditas Filosóficas, nas quais se estudam as Tradições ocidentais, e muito particularmente a Tradição hermético-alquímica, a Cabala e os mitos, sobretudo os egípcios.

Trata-se de um trabalho que aperfeiçoa e consolida aquele das Câmaras iniciais, preparando o Homem para se conhecer a si próprio integralmente e saber afrontar as provas que, pouco a pouco, se transformarão em provas reais. Uma vez terminado o trabalho nas Câmaras ditas Filosóficas, o Homem está pronto para o trabalho efectivo nas Câmaras de topo.